Severina quer saber por que sargento atirou em seu filho durante abordagem policial, realizada em Escada, na Mata Sul do Estado
JC online
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Severina no quarto do filho, morto por um tiro de fuzil disparado por um PM Guga Matos/JC Imagem |
Por quê? É a pergunta que não quer calar. Que não deixa a dona de casa Severina Lopes de Oliveira descansar. Por quê? É a pergunta que ela quer fazer, olhando, olho no olho, do sargento que atirou e matou o adolescente Marcelo Gomes. “Por que ele matou meu filho? Eu preciso ficar frente a frente com ele. E saber por que ele fez isso. Eu preciso ouvir essa resposta, senão meu coração vai explodir.” Ontem, um dia após enterrar o filho, Severina ia de um lado para o outro da casa agarrada com a camisa de Marcelo. “Ainda não tomei banho para não tirar o cheiro dele do meu corpo.”
JC – O policial alega que o tiro foi acidental. Que ele se desequilibrou e a arma disparou. A senhora acredita nessa possibilidade?
SEVERINA – É mentira. Meu menino disse que ele atirou. Ele fez pontaria e atirou.
JC – O que a senhora acha que aconteceu?
SEVERINA – Teve uma vez que ele pegou a chave da moto escondido do pai e ele foi abordado pelos policiais. Por conta disso, o pai teve a carteira de motorista suspensa. Eu acho que ele ficou com medo de prejudicar o pai de novo. Por ser de menor, ele sabia que ia ser um problema. Ele morreu para defender o pai. Meu filho era puro, era uma criança inocente.
JC – A senhora pensa em processar o Estado?
SEVERINA – Com certeza. Tudo o que eu mais queria era ficar frente a frente com o sargento que atirou no meu bebê. Eu não ia fazer nada com ele. Eu só ia perguntar uma coisa: Por que ele fez isso com o meu filho? Ele acabou com a minha vida. Meu filho pensava alto. Ele ia fazer faculdade de administração, seguir com os negócios do pai. Era muito inteligente. Ele acabou com tudo.
JC – A senhora teria coragem de ficar frente a frente com ele?
SEVERINA – Eu preciso disso. Eu preciso desabafar, minha filha. Senão meu coração vai explodir. Eu não vou conseguir descansar enquanto não ouvir essa resposta da boca dele. Por que ele matou o meu filho? Eu acordei de madrugada com isso me corroendo, me atormentando. Na minha cabeça, só vinha uma pergunta: Por quê? Por quê?
JC – Como a senhora tem vivido essas primeiras horas longe de Marcelo?
SEVERINA – Desde ontem que eu não tomo banho para não tirar o cheiro do meu filho do meu corpo. Se eu pudesse, nunca mais tiraria esse cheiro de mim (se agarra com a camisa vermelha do filho e começa a cheirá-la).
JC – Familiares contaram que na noite anterior à abordagem policial, Marcelo tinha se declarado à senhora. Isso é verdade?
SEVERINA – Você acredita nisso, minha filha? Parecia que ele estava se despedindo. Foi no mesmo dia da tragédia. Ele chegou em casa e estava com essa camisa (a mesma camisa vermelha), ele me abraçou, me beijou. Eu falei, Marcelo, para, deixa de brincadeira. Aí ele disse: “Mainha eu te amo, nunca te disse isso, mas eu te amo”. Desde ontem eu escuto essas palavras o tempo todo no meu ouvido. É como se eu estivesse vendo ele na minha frente, mas agora eu não posso abraçá-lo nem beijá-lo.
JC – A senhora acredita que um dia essa saudade vai passar?
SEVERINA – Enquanto eu respirar, todos os dias da minha vida, vou lembrar do meu filho. E chorar sua morte. Essa saudade não vai passar nunca porque nada vai trazê-lo de volta.
JC – A senhora acha que o policial será punido?
SEVERINA – Vou fazer disso o objetivo da minha vida. Não vamos descansar enquanto ele não pagar pelo que fez ao meu filho.
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