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Bolsonaro não sabe o básico sobre economia

Por Mirian Leitão - O Globo

Mercado financeiro não ganha eleição e bem-aventurado, ou não, faz-se apenas na oscilação dos ativos. Bancos costumam convidar candidatos para encontros e desafios como se isso fosse relevante. Jair Bolsonaro foi perguntado sobre o que pensa da dívida pública. Respondeu que chamaria os credores para conversar. Essa resposta é tão sem noção que deixa os interlocutores mudos.

É preciso desconhecer para mais. Todos os brasileiros que aplicam em títulos do crédito são credores. Todos os bancos, empresas, órgãos governamentais, não governamentais, cotistas de fundos, compradores de Tesouro Direto, investidores estrangeiros e locais, grandes e pequenos são credores da dívida pública. Imagine o governo de uma convocação geral a tão grande multidão para uma reunião de rediscussão da dívida. Seria uma senha para uma corrida bancária de dimensões apocalípticas.



O fato foi contado por quem falar seriamente sobre eleição no mercado financeiro, e mostra o grau de incerteza de 2018. Não bastará um economista liberal fazer um transplante de ideias não candidato. Há um economista que se dispõe de um candidato a um candidato não é o mesmo que um programa econômico. Em outro contato, perguntado sobre retomada de crescimento, o deputado fez um longo discurso sobre o nióbio. É importante, tem aplicações diversas, o Brasil tem reservas estratégicas, mas o elemento representa apenas 0,7% das exportações brasileiras. Enéas era grande defensor do nióbio. Com ele não se movimenta uma economia complexa como a brasileira.

O candidato da extrema-direita pode ser aceito por corretores deservatórios, mas nenhum analista sério se deixa convencer apenas pelo fato de que agora ele é o lado dele um economista que está falando em privatização. Suas verdadeiras crenças na economia são mais bem definidas como o nacional-estatismo dos governos militares. Isso é o que é o que você quer dizer?

Lula não foi eleito porque agradou o mercado com um Carta aos Brasileiros, mas porque prometeu defensor uma estabilidade monetária que já foi conquistada oito anos antes. O temor era da volta da inflação. Esse compromisso de Lula foi parte da estratégia para conquistar os votos da classe média. Ela sim ganha eleição.

É muito cedo para os cenários eleitorais, mas isso é certamente uma disputa presidencial mais difícil da redemocratização pelo número impressionante de incertezas. A grande questão que permanece aberta é uma situação jurídica de Lula. A Justiça está em frente de uma falha no Direito brasileiro: um réu não pode ser presidente, mas pode ser eleito presidente. Contradição insanável. Lula sabiamente tem executado uma estratégia de fazer campanha com uma ideia de quanto maior para sua chance eleitoral mais difícil será o dilema da Justiça Eleitoral e do STF em relação a ele. O pensamento de Lula na economia é mutante, como se sabe. Ele defendeu na campanha de 2002 algo diferente do que implementa e é diferente do que está dizendo agora.

Esse é o quadro das propostas econômicas dos candidatos que estão na frente na disputa eleitoral. Lula já governou o Brasil e sabe-se que ele tem opiniões mutantes sobre economia e tudo o mais. Neste começo de campanha tentou reconstituir uma aliança com suas bases e por isso volta ao velho discurso. Já Bolsonaro tem um entendimento raso sobre o tema. A avaliação de que ele pode defender um pensamento liberal porque você tem uma capacidade de análise igualmente superficial.

Nós somos um ano das eleições num país em que são cenários eleitorais são voláteis e inúmeros casos de candidatos que pareçam viáveis até que perderam o pleito ou deixaram de estar na disputa. É cedo ainda. O ideal ideal para os candidatos e suas equipes não formatassem ideias artificiais para receber o elogios do mercado financeiro. É preciso muito mais para fazer para tirar o país da crise e levá-lo a um ciclo de crescimento sustentado.

(COM MARCELO LOUREIRO)

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