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Obra da ponte Jaime Gusmão provoca desalojamento de comunidade em bairro nobre do Recife

Moradores da Zeis Vila Esperança Cabocó protestam contra despejo causado pela construção da ponte Engenheiro Jaime Gusmão, revelando impasse de 11 anos.

Protesto no Recife
Foto: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Na manhã da última quinta-feira, 24 de agosto, por volta das 6h30, a Avenida Dezessete de Agosto, nas proximidades da Escola Silva Jardim, no bairro do Monteiro, Recife, foi bloqueada por moradores da Zeis Vila Esperança Cabocó. O ato de protesto foi direcionado contra a Prefeitura do Recife, que realizou ações de despejo para viabilizar a construção da ponte Engenheiro Jaime Gusmão, destinada a conectar as zonas oeste e norte da cidade. A manifestação durou uma hora e marcou o desfecho de um impasse que se arrastava por 11 anos.

Cartazes empunhados pelos manifestantes exibiam frases como “O prefeito tá barateando a obra da ponte tirando a casa do povo!”, “Zeis é lugar de moradia não de ponte” e “Destruindo sonhos construindo pontes”, demonstrando a revolta daqueles que foram forçados a abandonar seus lares e agora enfrentam a incerteza de um futuro desabrigado.

A batalha dos moradores da Vila Esperança começou em 2012, quando o projeto da ponte foi anunciado. Na ocasião, 24 famílias que viviam nas margens do rio Capibaribe foram obrigadas a deixar suas propriedades. Dessas, 16 encontraram moradia em um conjunto habitacional construído pela Prefeitura na própria Vila Esperança, enquanto as demais receberam auxílio-moradia. Esse auxílio, que anteriormente era de R$ 200, foi reajustado para R$ 300 por meio de um projeto de lei sancionado no início de junho.

A construção da ponte passou por interrupções e retomadas ao longo dos últimos anos, mas na gestão de João Campos, a obra ganhou impulso e está prevista para ser concluída ainda este ano. No entanto, a construção da ponte, apesar de prometer melhorar o fluxo viário na zona norte, resultará na extinção da Zona Especial de Interesse Social (Zeis) Vila Esperança, status que a comunidade mantinha desde 1994.

A líder comunitária Maria Helena Vicente, figura proeminente na resistência da comunidade, expressou sua desolação: “Eu me sinto em fim de luta e vencida pela prefeitura”. Ela acrescentou que o engajamento da comunidade foi gradualmente enfraquecido pela influência do poder público. Os poucos que persistiram na resistência acabaram enfrentando processos judiciais, culminando em ordens de despejo que agora aguardam cumprimento.

Os moradores se sentiam pressionados pelos agentes da Autarquia de Urbanização do Recife (URB), que estavam supostamente intimando os residentes a aceitarem acordos de compra de seus imóveis para permitir a desocupação da área.

A situação se agravou ao longo dos meses. Muitas casas já foram demolidas e os que permaneceram estão cercados pelos destroços, enquanto a pressão da prefeitura para uma desocupação mais rápida é constante. O clima é de luto, com as famílias se despedindo de suas casas e lutando por indenizações dignas que permitam a compra de novas moradias em condições aceitáveis.


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