A paralisação do programa de distribuição de água afeta 350 pipeiros. Foto: Honório Barbosa |
Logo após as eleições, o governo Bolsonaro cortou os recursos da operação Carro-Pipa, que leva água potável às famílias da região Nordeste do país há mais de 20 anos.
De acordo com dados da planilha do Exército Brasileiro, 1,6 milhões de pessoas em oito estados nordestinos, que teriam direito ao abastecimento neste último mês, foram prejudicadas pelo corte. O Nordeste foi a região decisiva nas eleições deste ano, com o maior número de votos de oposição ao governo Bolsonaro, sendo responsável direto pela eleição de Lula (PT).
O primeiro Estado a ter o abastecimento suspenso foi Alagoas. No caso de Pernambuco, Paraíba e Bahia, a paralisação foi informada apenas na quinzena final de novembro, assim como vem ocorrendo nos demais estados.
Segundo informações do colunista Carlos Madeiro, do UOL, o primeiro estado a ter o abastecimento suspenso foi Alagoas. No caso de Pernambuco, Paraíba e Bahia, a paralisação foi informada apenas na quinzena final de novembro, assim como vem ocorrendo nos demais estados.
A operação Carro-Pipa é financiada com recursos do Exército Brasileiro em parceria com o MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional). Além disso, ambos confirmaram que a suspensão ocorreu por falta de verbas para continuidade.
Em um documento do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado, com sede em Petrolina (PE), endereçado a Defesas Civis de municípios de Pernambuco e Bahia, o Exército informa que “o recebimento parcial de recursos financeiros para atender a execução do serviço será somente para até o dia 15 de novembro corrente”. O documento foi assinado pelo coronel Paulo Francisco Matheus de Oliveira no último dia 14.
COMUNIDADE AFETADA
A suspensão pegou as Defesas Civis, ‘pipeiros’ e moradores de surpresa. Pela regra, cada família tem direito a 20 litros de água por dia a cada integrante assistido. Ou seja, se a casa tem cinco moradores, são 100 litros diários. Eles já relatam prejuízos. Orlando Vieira da Silva, 54, vive no sítio Boa Esperança, em Ouricuri (PE), e exerce a função de apontador (liderança local que ajuda a coordenar distribuição da água) da operação na comunidade. Ele diz que, das 30 famílias que vivem lá, apenas quatro conseguiram receber água recentemente e 26 estão completamente desabastecidas.
“A região está precisando de água. Não sei por que, justo nesse período mais seco —que vai de setembro até janeiro—, parou. É muito ruim para nós”, lamentou em entrevista ao portal UOL. Só em Pernambuco são 529 mil moradores de 105 cidades que estão aptos para receber água da operação. Em Ouricuri, são 19 mil pessoas atendidas, o maior número de beneficiários do estado. Em tom emocionado, Silva faz um pedido de ajuda para que a situação seja revista urgentemente.
“Eu queria que o apelo chegasse ao governo e que eles vissem isso. A situação aqui está triste, as mães de família estão precisando de água, e nós não sabemos o que fazer. Eu queria que a pessoa que fosse responsável pela operação tomasse logo uma decisão. Ele não vai deixar o povo com sede.”, diz Orlando Vieira da Silva, sertanejo de Ouricuri (PE).
O Exército informou ontem que a corporação “é responsável apenas pelas ações que envolvem a execução da operação, a partir do repasse de recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional ao Ministério da Defesa”.
“Os recursos disponibilizados pelo MDR até o momento permitiram a execução da operação na sua plenitude até o dia 16 de novembro. O Exército Brasileiro aguarda nova descentralização de recursos para que seja retomada a distribuição rotineira de água”, disse.
O MDR, por sua vez, disse que a renumeração dos pipeiros é feita pelo Exército e que a pasta “apenas faz o repasse dos recursos”. Além disso, apontou que “as necessidades de recursos adicionais foram formalmente encaminhadas ao Ministério da Economia, para que seja possível retomar, o quanto antes, a operação”.
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