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Zelenski diz que Ucrânia quer paz, lista condições na ONU e pede punição a Rússia

Assembleia Geral da ONU exibe discurso de presidente ucraniano horas depois de Putin ameaçar escalada nuclear

Volodimir Zelenski fala em vídeo para a Assembleia-Geral da ONU - Valentyn Ogirenko -16.set.22 /Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu paz em um pronunciamento exibido na Assembleia-Geral da ONU desta quarta-feira (21), e disse que todos os países sabem "quem é o único que quer guerra", sem nomear diretamente o líder russo, Vladimir Putin.

"A Europa quer paz. O mundo quer paz. Há apenas uma entidade entre todos os estados membros da ONU que diria agora, se pudesse interromper meu discurso, que está feliz com esta guerra", acrescentou ele. "Mas não vamos deixar essa entidade prevalecer sobre nós, mesmo sendo o maior estado do mundo."

Em uma fala gravada e transmitida por vídeo, Zelenski expôs em inglês o que disse serem cinco condições inegociáveis para a paz: punição pela agressão russa, proteção da vida, restauração da segurança da Ucrânia, integridade territorial do país e garantias de segurança.

"Foi cometido um crime contra a Ucrânia e exigimos uma punição justa", afirmou, descrevendo a morte e a destruição que "a Rússia provocou com sua guerra ilegal".

Zelenski pediu a criação de um tribunal especial da ONU para punir a Rússia, país que deveria ser privado de seu direito de veto no Conselho de Segurança da organização, segundo ele.

Ele listou algumas das crises causadas pela guerra, dentre as quais o aumento do preço da energia, a escassez de alimentos e a ameaça de um desastre nuclear em Zaporíjia, uma usina apreendida por soldados russos.

Apelou aos países que estabeleçam um teto de preço para o petróleo e o gás russos, exportações apontadas como principais fontes de renda para financiar a guerra. "Limitar preços é proteger o mundo", disse ele. "Mas o mundo vai aceitar? Ou vai ficar com medo?"

O líder ucraniano apelou para que o Ocidente siga com o fornecimento de dinheiro, armas e bombas para a Ucrânia e lembrou Izium e Bucha, dois locais onde foram descobertos dezenas de corpos em valas comuns.

Sua participação foi aplaudida de pé por cerca de 40 segundos pelos diplomatas presentes na sede da ONU. A fala foi veiculada horas depois de Vladimir Putin afirmar que decretaria a mobilização de até 300 mil reservistas para a guerra em curso e estaria disposto a usar armas nucleares se necessário.

O próprio Zelenski já havia se pronunciado sobre o assunto mais cedo, quando disse não acreditar que o mundo permitiria que a Rússia use armas nucleares na guerra em seu país.

Mas outros líderes demonstraram alarme diante das ameaças de Putin. Em discurso incisivo à Assembleia-Geral da ONU, o presidente americano, Joe Biden, condenou a linha de ação do russo, afirmando que "uma guerra nuclear não pode ser vencida, e não deve jamais ser lutada". O líder francês, Emmanuel Macron, disse que a decisão só "vai aumentar o isolamento" de Moscou. E o papa Francisco chamou a possibilidade de a Guerra da Ucrânia envolver armas nucleares de "uma loucura".

No outro eixo geopolítico, a China pediu um cessar-fogo e diálogo entre as nações em conflito. Na semana passada, o líder chinês Xi Jinping se encontrou com Putin no Uzbequistão, em um evento da Organização de Cooperação de Xangai. Xi tem evitado apoiar abertamente a Rússia na guerra, embora faça críticas frequentes ao Ocidente.

O pronunciamento de Vladimir Putin acontece em um momento em que a Rússia acumula derrotas na Ucrânia, tendo perdido a região de Kharkiv. Apesar de afirmar expressamente na transmissão que sua mensagem não era um blefe, muitos analistas encararam a fala sobretudo como uma forma de escalar a guerra.

O discurso do presidente russo foi seguido por tumulto interno. Voos saindo da Rússia se esgotaram rapidamente, e o líder da oposição, Alexei Navalny, clamou o povo para protestar contra a mobilização de reservistas. Ainda houve relatos de que a população já estava sendo acionada para a guerra e que, em uma cidade ao sul do país, a polícia estava impedindo a saída de homens. Um grupo de monitoramento afirmou que mais de cem pessoas foram presas em manifestações horas após a transmissão.

Folha SP

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