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Bolsonaro captura o 7 de Setembro com comícios, machismo e ameaças repetidas

Presidente reduz golpismo de 2021, aumenta conservadorismo e ignora bicentenário; Congresso, Judiciário e rivais se afastam

O presidente Jair Bolsonaro em ato político na Esplanada dos Ministérios - Gabriela Biló/Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou as comemorações do feriado do 7 de Setembro em comícios de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro, repetindo ameaças golpistas diante de milhares de apoiadores, mas em tom mais ameno do que no mesmo feriado do ano passado.

Em cima de carros de som, ele pediu voto, reforçou o discurso conservador e deu destaque à primeira-dama Michelle Bolsonaro com declarações de tom machista.

O mandatário deixou de lado o Bicentenário da Independência nos palanques montados nas duas cidades para focar a retórica de campanha, a menor de um mês do primeiro turno das eleições.

Apesar da repetição de ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal) e da difusão de mensagens autoritárias nos atos, Bolsonaro reduziu o tom golpista adotado na manifestação de 2021, quando chegou a pregar a desobediência ao Judiciário e xingou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha".

A insistente narrativa de Bolsonaro em meses anteriores, de questionamento às eleições, às urnas e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), também ficou de fora das pregações centrais do presidente —conforme defendiam integrantes de sua campanha, para quem esse discurso agrava a rejeição do presidente.

Desta vez, Bolsonaro não citou Moraes, presidente do TSE, embora tenha mantido ameaças veladas ao dizer que vai levar "para dentro das quatro linhas [da Constituição] todos aqueles que ousam ficar fora delas". Ele costuma usar essa expressão para atacar ministros do Supremo.

O presidente reduziu o foco dos discursos no STF e concentrou ataques ao ex-presidente Lula (PT), que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. "Não sou muito bem-educado, falo palavrões, mas não sou ladrão", afirmando que a esquerda deveria ser extirpada da vida pública.

Pela manhã, em Brasília, Bolsonaro elogiou Michelle Bolsonaro e, com tom machista, entoou gritos de "imbrochável" e ensaiou fazer uma comparação com outras primeiras-damas —mas sem citação direta à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula.

"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro, vamos todos votar, vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil. Podemos dar várias comparações, até entre as primeiras damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente", disse.

"Tenho falado com homens que estão solteiros: procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda", acrescentou.

Apesar da data histórica devido ao Bicentenário da Independência, o evento em Brasília não teve a presença dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do STF, Luiz Fux.

À tarde, na praia de Copacabana, Bolsonaro buscou atacar Lula e afirmou que a esquerda deveria ser "extirpada da vida pública".

"Se você perder a liberdade, você perdeu tudo na vida. Compare o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua. De comum esses países têm nomes que são amigos entre si, todos os ex-chefes de Estado dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Não é voltar apenas à cena do crime, [mas] esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública."

Folha SP

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