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| Imagem: Reprodução |
O "Tribunal da Internet" não realiza seus julgamentos com equidade, no exato momento em que se deixa de discutir ideias e passa-se a cancelar pessoas.
A cultura do cancelamento da às pessoas a sensação de poder, trabalha como uma espécie de tribunal virtual em que qualquer pessoa é penitenciada e eliminada da sociedade, sem direito a explicações. O mundo virtual é muito delicado, temos uma linha tênue entre a análise construtiva e o ataque revestido de ofensas.
Os jovens em sua grande maioria dominam a internet e não há como negar. Logo, eles são os que mais estão envolvidos nesse ‘tribunal”, cometendo críticas constantes sobre o que eles avaliam como certo ou errado, seja mostrando o rosto ou atrás de perfis fakes. Não existe a possiblidade de reconstrução, apenas os “juízes” determinam o veredito final. No caso o cancelamento. Na pratica qualquer atitude considerada preconceituosa, injusta, ou antiética pode ser avaliada como merecedora do cancelamento. o ponto aqui não é a atitude que é cancelada, mas a pessoa. Todos podemos cometer um erro. Já pensou se fôssemos cancelados todas as vezes que um determinado grupo não concordasse com um suposto ponto de vista? Essas críticas podem levar à intolerância, e isso não pode ser naturalizado.
MAS O QUE LEVA UMA PESSOAS A ADOTAR ESSE COMPORTAMENTO CONDENANDO O OUTRO?
Nós como primatas nos aproximamos ao que avaliamos igual e nos afastamos ou mesmo odiamos o que associamos como diferente. O encontro com o outro é, deste modo, virtualmente conflituoso. Ocorre que, com as redes sociais, adquirimos a ilusão de que estamos cercados por iguais, projetamos isso. Quando as pessoas usam a projeção como um mecanismo de defesa, percebem um pensamento desagradável, sentimento ou qualidade como pertencente a outra pessoa, em vez de a si mesmos, a fim de ter a carga emocional retirada de si. Sem perceber que estão fazendo isso a fim de proteger-se de coisas que realmente não querem lidar ou pensar. Ela alivia os sentimentos de ansiedade ou culpa associados a pensamentos dolorosos ou indesejáveis, com isso o superego virá o rei ,o juíz. Simplificando a metáfora de FREUD seria o seguinte:” o ego é um cavaleiro tentando frear um cavalo selvagem (o id), seguindo as ordens do professor de equitação (superego).” ( (FREUD-1923).
O cancelado vive uma sensação semelhante ao luto, onde ele foge de tudo que lembre aquele momento. O cancelador vive a sensação de onipotência que pode eliminar da vida aquilo que não agrada, ao passo que “o que mais me incomoda no outro tem a ver com o que há de mais pessoal em mim mesmo”. (Freud).
É possível não ser cancelado? Não temos uma receita, todos nós seremos cancelados de alguma forma. A única forma de não ser cancelado seria não se expor nas redes nem nunca opinar, mas se tiver ativo estará sujeito a qualquer momento. Errou? pede desculpas, cometeu algo que fere alguém ou algum grupo? reconheça e tenha maturidade para aprender. Sugiro que reavalie. Talvez o único efeito positivo seja o posicionamento de ideias e proteção de grupos que já vivem exclusos desde que seja feito com coerência.
De qual lado você está?
“A cultura do cancelamento está enraizada numa característica do ser humano. O ser humano gosta de jogar pedra nos outros. Ele gosta porque, nesse momento, é quase como se ele sentisse que é puro(…) Eu tenho a impressão de que a cultura do cancelamento é a transposição do gosto do linchamento para o âmbito das redes sociais e traz a ideia de que quem lincha está linchando em nome de uma boa causa...” Professor Luiz Felipe Pondé, filósofo, escritor
“É um cancelamento de um bloco de real para que eu possa existir dentro de uma fantasia que eu imaginei. Então, é um cancelamento e uma criação de novas realidades. Eu quero ficar com o que meu olho vê e quero poder acreditar que o que meu olho vê é o real.” Psicanalista Maria Homem
Referências:
Freud (1923-1925) o eu e o id
Carola Hossfeld (rw)
Até a próxima.
Ana Gonçalo.
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