“A coisa mais importante que se pode aprender na vida é amar, em troca de amado ser.”
Essa frase, retirada de um dos meus filmes preferidos (Moulin Rouge: Amor em Vermelho, 2001) retrata uma das maiores expectativas que temos em relação ao outro.
A nossa demanda por afeto, seja ela no ambiente familiar, no círculo de amizades ou mesmo nos relacionamentos amorosos, diz muito sobre a maneira como construímos nossas bases emocionais, desde a infância.
Entretanto, diferente dos filmes, a realidade nos faz perceber que nem tudo é tão perfeito quanto gostaríamos que fosse.
Não é raro nos deixarmos levar pela imagem de um relacionamento ideal, e acabamos por colocar as pessoas com quem nos envolvemos num pedestal de perfeição. Pelo menos, numa fase inicial.
O convívio pode fortalecer os laços de um casal, a partir do momento em que se entende o verdadeiro sentido da palavra “companheirismo”, nos bons momentos e dificuldades do dia-a-dia.
Por outro lado, pode também revelar as falhas de quem julgávamos imune a elas, quando estávamos entorpecidos pelo sentimento de amor intenso.
A partir daqui, podem-se identificar dois tipos de casais:
- Os que dialogam e tentam superar as diferenças através de um comum acordo, sem que nenhum dos dois se anule;
- Os que fingem que nada está acontecendo, ultrapassam seus limites e os limites do outro, gerando conflitos de toda ordem.
Nesta segunda categoria, encontram-se os relacionamentos abusivos ou patológicos (doentios), caracterizados por um sadomasoquismo onde nenhuma das partes toma a iniciativa de romper o ciclo de humilhações, traições, desrespeito e agressões físicas.
A vítima, aceita passar por tudo isso, pois sua personalidade é emocionalmente frágil. Talvez reflexo de um lar sem afeto, ou onde aprendeu inconscientemente que amar é sofrer pelas mãos de quem se ama.
Pessoas de fora da relação conseguem perceber toda a passividade e maus-tratos, tentam alertar, mas nunca são ouvidas. Têm sua opinião considerada como uma afronta e ficam impossibilitadas de prestar qualquer auxílio.
De fato, nem deveriam, pois esta é uma função que deve ser desempenhada unicamente por quem sofre. Salvo em casos de agressão física, que devem ser denunciados na tentativa de evitar que algo mais grave aconteça.
O que pouco se considera é que a vítima nesse tipo de relação, geralmente o faz por diversos motivos: Além da dependência emocional, também pode haver uma dependência financeira e baixa autoestima vinculados.
Ela não se acha digna nem merecedora de afeto e respeito, não exige nada do outro por medo de perder o que acredita que tem e se enxerga como inferior demais para pedir algo. Teme a rejeição e evita ao máximo contrariar.
O problema é que esse histórico de abusos tende a se repetir dentro do próprio relacionamento ou em diversos outros relacionamentos, pois seu ego não está fortalecido o suficiente para investir em si mesma.
O abuso está sempre relacionado à imposição de uma ou mais situações de vulnerabilidade.
Se você acha que pode estar num relacionamento abusivo, reflita sobre essas três perguntas-chaves:
1- Pensar na possibilidade de seguir uma vida sem a pessoa amada lhe apavora?
2- Sente medo de conversar com seu parceiro (a) sobre questões do relacionamento que você gostaria que melhorassem ou que não lhe agradam?
3- É agredida (o) física, verbal ou moralmente repetidas vezes por seu companheiro (a)?
David Zimerman, psicanalista americano, descreve em sua obra “Manual da Técnica Psicanalítica”, quatro partes de um relacionamento abusivo:
- Domínio - O dominador usa diversos recursos que possam fazê-lo ser visto pelo seduzido como grande e poderoso. Essa dominação pode ser intelectual, afetiva, econômica, moral, política ou religiosa.
- Apoderamento: O dominador vê na sua atitude de posse, o único meio para conseguir o respeito e o amor do outro. Desta forma, ameniza o seu medo de desamparo.
- Sedução: Técnicas utilizadas pelo dominador para provocar fascinação/encantamento no seduzido, que passa a enxergá-lo como a pessoa mais incrível que alguém poderia ter.
- Tantalizante: Baseada no mito grego de Tântalo que foi acorrentado pelos deuses num lago sem acesso à comida e bebida que sempre flutuava próximo a si. Representa o vínculo adoecido que atormenta, frustrando continuamente o desejo de ser amado pelo outro. O dominador sempre dá e tira esse amor, colocando-se como impossibilitado de assumir um relacionamento estável. Términos e reaproximações acontecem num ciclo de sofrimento constante.
Destaco que não existe cura para um relacionamento adoecido, mas sim ressignificação da situação em que o casal se encontra aprisionado.
Esta deve ser buscada por ambos através de um tratamento preferencialmente psicanalítico, como recomenda também, Zimerman.
Cada indivíduo deve assumir o papel de transformador desse ciclo, em benefício próprio e do outro, se realmente quiser que esse relacionamento dure de forma saudável.
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