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“Continuamos na base de Paulo Câmara”, diz José Queiroz


FolhaPE - O prefeito de Caruaru, José Queiroz (PDT), afirma que o município era “terra arrasada” quando assumiu e que, agora, entregará uma “metrópole”. À Folha de Pernambuco, ele falou do seu futuro político e de sua percepção do cenário nacional, além de destacar os pontos fortes de sua gestão. Queiroz encerra seu segundo mandato consecutivo no município, tendo sido eleito em 2008 e reeleito em 2012. Ele já foi prefeito em outras duas ocasiões (1982 e 1992). O pedetista falou de suas impressões sobre a eleição deste ano em Caruaru e disse que seu apoio à prefeita eleita Raquel Lyra (PSDB), no 2º turno, não significa um distanciamento da base do governador Paulo Câmara, que apoiou Tony Gel (PMDB).

Como o senhor avalia os oito anos de gestão em Caruaru?
Sempre afirmo que encontramos uma terra arrasada e hoje devolvemos Caruaru a população como uma metrópole. Não destacaria questões pontuais, pois avançamos em todas as áreas. Cuidamos da Educação, introduzindo a escola de tempo integral. A política de creche foi muito positiva. O que vai salvar a educação do País é a política infantil. Cuidamos do alunado com 40 mil fardamentos. A saúde estava em uma situação calamitosa e hoje temos 68 unidades básicas de saúde. Temos um hospital do coração, uma clínica da mulher, uma política de saúde aprovada pela população. Gastamos 25% do orçamento com saúde e nos dá satisfação saber que não diminuímos, na crise, a oferta de serviços. A política de parques ambientais, temos sete, e não conheço município no Estado que tenha tantos. Diria que a eficiência administrativa fez com que a cidade se transformasse. Nossas ações se concentraram 90% na periferia.

Quais os principais problemas que a cidade enfrenta no momento?
O problema da água que es­tá para ser resolvido pelo Go­verno do Estado com a bar­ragem de Pirangi. Quando recebemos Caruaru havia mil ruas sem calçamento. Con­seguimos pavimentar mais de 500. Então, ainda te­mos um déficit. Entretanto, es­tamos deixando emendas aprovadas para continuar a oferta desta questão do orçamento.

De que modo a crise nacional afetou Caruaru?
Quanto à obtenção de recursos, não houve muitos pro­blemas. Atravessamos um período muito rico de recursos para investimento conseguidos pelo deputado Wolney Queiroz (PDT), ou em convênio com Eduardo Campos (PSB). A questão da administração na crise é o custeio. É sustentar uma máquina que se agigantou para oferecer bons serviços e isso faz com que ela custe mais caro. O di­­nheiro para custeio está sen­­do pouco e será preciso muito trabalho da minha sucessora para manter esse nível de oferta de serviço com a crise financeira.

O candidato apoiado pelo senhor, o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB), terminou em quarto lugar, sendo superado por uma pessoa que disputou a primeira eleição, Delegado Lessa (PR). A que o senhor atribui esta derrota?
Não foi insatisfação com meu governo, que continua bem avaliado. São fenômenos eleitorais que precisamos compreender. A reação da população em relação ao meu candidato merece respeito. Se entenderam que havia em Raquel Lyra (PSDB) ou em Lessa algo novo, se bem que Tony Gel (PMDB) não era novidade, mas uma banda da política tradicional da direita que puxou votos, só me cabe respeitar. Eu lamentei demais, pois Jorge Gomes é um companheiro altamente qualificado e que participou ativamente dos sete anos e meio de administração comigo e esperava que fosse meu sucessor, mas devo respeitar a vontade do eleitor. Soube compreender o momento político que vivíamos e como entendi que Tony Gel não tinha sido tão bem-sucedido como prefeito, optei, com o aval de Wolney Queiroz, por apoiar Raquel Lyra no segundo turno. Creio que houve a questão do momento nacional. Qualquer tipo de proposta que se encaixasse no momento nacional seria capaz de motivar o eleitor, e a votação do delegado se enquadra nisso. 

Muito se comentou que Raquel Lyra desejava ser candidata pelo PSB e que o senhor queria apoiar seu vice. Isso resultou em um entendimento de que o PDT apoiaria a reeleição de Geraldo Julio no Recife e, em Caruaru, o PSB indicaria Jorge Gomes. Você acha que essa tática foi um erro?
Não foi um erro. Falar depois da eleição é não admitir o que aconteceu lá atrás. Hou­ve uma movimentação de entendimento político e partidário que levou à candidatura de Jorge Gomes. Consideramos que foi tu­­­do acertado. Entretanto, não temos domínio sobre o eleitor e temos que respeitá-lo. Se não deu certo, paciência.

No segundo turno o senhor apoiou Raquel Lyra, tomando uma decisão oposta ao governador Paulo Câmara (PSB), que apoiou Tony Gel (PMDB). Isso demarca um afastamento do senhor com o Governo? 
Não. No momento que optamos por Raquel explicitamos que Tony Gel não teve um grande desempenho co­mo prefeito. Tornamos públi­co que não fazemos a mesma política que Raquel, que está no PSDB, alinhada à direita. Temos discordâncias em relação ao Governo Federal. En­tretanto, no que depen­der de nós, estamos prontos pa­ra contribuir com a gestão. Wolney já informou a ela que continuará, caso ela queira, intermediando a aprovação de emendas para reforço de caixa.

O apoio a Raquel significa uma aproximação com o PTB do senador Armando Neto e da oposição estadual?
Não tem absolutamente na­da a ver. Nossa decisão foi isolada, do PDT de Caruaru com José e Wolney Queiroz, além de nossos companheiros, para votar no segundo tur­no naquilo que entendíamos ser o melhor para a cidade. Não tem nenhuma conotação de entendimento político para o futuro ou de no­vas alianças. Continuamos na base de Paulo Câmara. É com ele que estamos trabalhando. 

A reaproximação do senhor com o ex-governador João Lyra (PSDB), pai de Raquel Lyra, foi vista de forma positiva pela população?
Olharam tão positivamente que Raquel ganhou. Agora, através do tempo tivemos divergências com João Lyra, mas estamos acima disso em favor de Caruaru.

Qual vai ser seu destino político? O senhor pretende trabalhar de modo mais partidário?
Fui presidente do PDT no Estado por 20 anos. Quero discutir dentro do parti­do no Estado e nacionalmen­te também. Ir para dentro da Executiva nacional para opinar. 

Em 2018 o senhor tem pretensão de disputar algum cargo eletivo?
Eu cito sempre o que aconteceu comigo em 1989. Deixei a Prefeitura de Caruaru em 1988, vim para Recife e discuti com partidos e entidades da sociedade. Dali surgiu um embrião de candidatura a governador. No fim, eles disseram que a vez era de Jarbas Vasconcelos (PMDB). Retirei meu ensaio de candidatura e dois dias depois Jarbas me chamou para ser candidato ao Senado. Surgi candidato ao Senado sem projeto. Isso dificulta. Quero mais discutir o País e verificar o que surge. Se não surgir nada, não serei candidato a nenhum cargo. Se não surgir essa oportunidade, quero continuar contribuindo. Vou continuar discutindo política independente de mandato.

Você tem medo que surja uma liderança problemática que termine conquistando espaço dentro dessa crise nacional?
O ambiente de crise é propício a isso. Medo, não tenho. Precisamos reagir, discutindo o cenário, virando protagonistas e descobrindo lideranças. Estamos carentes de lideranças. A Lava jato acabou criando uma barreira e, por vezes, privando iniciativas que poderiam ser saudáveis para se buscar caminhos para o país. Precisamos mexer com os partidos que faziam a grande política de centro-esquerda para que a partir deles encontremos discussão que aponte caminhos para o País e daí surjam lideranças.

O senhor acha que existe um meio da esquerda se reerguer depois dos reveses representados pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff?
Torço para que possamos fazer um núcleo como já existiu. Sempre tivemos um conjunto de centro-esquerda que comandava o processo nacional. Eram PT, PCdoB, PSB e PDT. Nós quebramos esse núcleo. Minha visão é que ele precisa voltar a existir. Isso vai passar pelo PSB rever sua participação.

O senhor é a favor da candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República?
Sou a favor de uma candidatura do meu partido. Alguns falam que Ciro é muito temperamental, mas chega um tempo que a idade vai ajudando a maturidade. Acho que ele está amadurecido. É uma figura para quem não se aponta nada contra ele nesse contexto atual. 

Ciro fez críticas duras ao ex-presidente Lula (PT). O senhor concorda?
Não. Temos que compreender o papel de estadista de Lula. entender que a administração dele não pode ser analisada só pelo viés político, mas pelas indiscutíveis transformações que o país passou. As políticas públicas adotadas por Lula transformaram o País. O brasileiro tem que reconhecer o papel de Lula. Os erros, não discuto, nem quero isentá-lo de qualquer culpa, mas ele é um estadista mundial.

O senhor acha que o congelamento dos gastos públicos por 20 anos é uma solução viável?
Não acho. Creio que se deve discutir o País por outro viés. Isso pode apenas acabar limitando a capacidade que os estados em contribuir com o desenvolvimento do País. Ficam todos amarrados.

Você é a favor da renúncia do presidente Michel Temer?
Precisamos saber se a renúncia do presidente resolve. Veja como é complexo. Quando digo que quero ver se volto a discutir no partido, é para verificar o surgimento de lide­ranças que sejam condutoras como Miguel Arraes, Ulisses Guimarães e Leonel Brizola. Pessoas que o país, ao ouvir, acreditava que tinha um norte. A renúncia resolve ou se vai para uma nova a­ventura? As políticas econô­micas de Temer em alguns aspectos são uma temeridade. Só dá para discutir se formarmos o bloco de centro-esquer­da com compromissos nacionais. Temos que partir para discussões políticas. Que­ro dizer ao partido que gostaria de sentir o clima que vivemos com Brizola. Não podemos nos render diante do problema de que tem um mundo de gente denunciada na Lava Jato. Acho que Ciro Gomes pode dar grande contribuição.

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