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O “Nós” de Marina

Anunciando um novo partido e ganhando forças como uma das peças-chave da sucessão presidencial de 2014, Marina Silva retoma o papel de protagonista no jogo político brasileiro

marina reunião

Segundo Marina Silva, ex-senadora e ministra do Meio Ambiente, é apenas uma “boa coincidência” o fato de seu QG político localizar-se em frente ao Parque Olhos D’Água, um pequeno oásis fincado no meio da Asa Norte, em Brasília. O espaço, uma das mais importantes áreas de conservação do Centro-Oeste, é cercado de trilhas, animais e vegetação nativa do cerrado. No local, porém, onde há muitas nascentes, quer se construir um portentoso shopping center. O impasse, fruto da gananciosa exploração imobiliária que assola Brasília, mobiliza o movimento ambientalista da Capital Federal.

Marina diz que, por enquanto, o envolvimento dela com a questão do Parque Olhos D’Água é “indireta”. As questões ambientais, contudo, estão na linha de frente das proposições políticas do novo partido que ela lançou em fevereiro, após mais de dois anos de gestação: o Rede Sustentabilidade, ou apenas “Rede”. “É uma proposta sincera”, ela explica. “Não é só pela ‘questão eleitoral’ ou para ganhar simpatia da população.”

Naquela manhã solar de sexta-feira, Marina não falou somente sobre o novo partido, meio ambiente e sustentabilidade, temas que domina, mas discorreu sobre uma gama de assuntos pontuais – direitos da mulher, liberdade de expressão, governo Dilma Rousseff, além de questões espinhosas, como o estado laico e o casamento gay. “O estado laico é para os que creem e para os que não creem, os que têm um posicionamento religioso e os que não têm. A defesa dos direitos das minorias é uma questão de direitos civis das pessoas”, ela diz. “O que importa para mim são as bandeiras, os valores e os princípios éticos.”

Por formação, a senhora é professora de história. Acha que a revolução feminista do século 20 também trouxe armadilhas?
Há uma coisa muito boa nisso. Durante milhares de anos a humanidade manquejava, andando apenas apoiada na perna do masculino, e as mulheres eram tratadas como incapazes. E em apenas um século elas foram capazes de aprender tudo o que os homens fazem e adquiriram as mesmas competências, sem medo de serem intuitivas, de mostrar inseguranças, sentimentos e sensibilidade. Tudo graças a uma série de fatores, econômicos, sociais, culturais. Até porque somos 7 bilhões de pessoas. O que seria da metade disso? 3,5 bilhões de mulheres sendo tratadas como incapazes. Não havia a menor possibilidade de o mundo continuar de pé se não fosse colocada em ação a inteligência, a competência e a capacidade criativa e intuitiva da mulher, para alavancar este novo momento da civilização. Foi uma aprendizagem silenciosa, conquistada em milhares de anos. E, se aprendemos em um século tudo o que os homens aprenderam ao longo de milhares de anos, um dos grandes desafios de hoje é o de que os homens devem começar a aprender muito rápido com as mulheres tudo aquilo que elas sabiam. Até mesmo aquilo que elas faziam sendo ocultadas e desqualificadas durante tanto tempo.

As políticas brasileiras têm uma agenda voltada para as mulheres? O que o Rede Sustentabilidade defende nesse sentido?
Existe um avanço grande nas políticas públicas brasileiras nos últimos 15 anos, como Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, voltado para o atendimento público do feminino. É um avanço, assim como o esforço que vem sendo realizado pelo Congresso e, também, pelas parlamentares femininas. Cito, por exemplo, o estabelecimento de uma cota de 30% para que as mulheres tenham uma força política acolhedora dentro dos partidos e a presença feminina dentro do Supremo Tribunal Federal – ainda não na quantidade desejada, mas que ficaram configuradas em grandes conquistas. Na prática, ainda temos um enorme terreno a percorrer. E o Rede Sustentabilidade vai lutar por isso, como já vem lutando. O Rede não inventará bandeiras; vai usar as boas políticas que vêm sendo produzidas e implementadas em políticas públicas. Nosso esforço será corrigir o que ainda é inadequado, completar o que é faltoso e procurar, com o debate, o que pode ser criado de forma produtiva, criativa e livre.

rollingstone

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