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“Vitória de Humberto não une o PT. Seria a paz de cemitério”

Entrevista: João da Costa (PT) Prefeito do Recife

Folha PE

joao da costaConfiante na homologação de sua candidatura, o prefeito João da Costa (PT) irá a São Paulo, hoje, véspera da reunião da executiva nacional, que vai deliberar se o gestor será de fato o candidato do partido ou se a legenda lançará o senador Humberto Costa como um ‘tercius’ - candidato para tentar unir um PT ainda mais dividido após a anulação da prévia em que o prefeito derrotou o secretário estadual de Governo, Maurício Rands. Essa hipótese não convence João da Costa, que rebate tal opção. “Eu disse a Rui Falcão (presidente nacional do PT) que Humberto tinha tomado partido na disputa. Então, ele não seria uma terceira via. Seria uma segunda via que tinha perdido a primeira prévia. Isso é propor dar a vitória aos vencidos”, dispara o petista, nessa entrevista exclusiva àFolha de Pernambuco.

Prefeito, mais de duas semanas após anulação das prévias, o PT está perto de definir quem será o candidato no Recife. Terça-feira (amanhã), a executiva nacional deve decidir se homologa sua candidatura. Se não o fizer, a tendência é lançar o senador Humberto Costa. Como estão suas articulações?
A gente quer recompor o partido politicamente. Está claro que hoje temos visões muito diferentes do PT. Imaginar que um dia, iríamos estar defendendo intervenção no nosso próprio diretório? Daqui para a frente, quem vai defender a autonomia política? Toda a decisão de Pernambuco será tomada pela nacional? Como é que você se submete a isso? É entregar sua autonomia política, porque não teve maioria aqui, para a nacional. Recife não é uma cidade qualquer, o povo do Recife não aceita isso. O PT não é um partido qualquer.

Seu adversário, Maurício Rands, retirou o nome para apoiar Humberto, o que gerou o cancelamento da prévia. O senhor, porém, não retirou, supostamente contrariando orientação da nacional. Isso poderá respingar na decisão da executiva?
A decisão a meu favor é decorrente de um processo interno nosso, que foram as primeiras prévias. Quando se anulou as prévias, sem fato objetivo, foi uma decisão política. Se convocou novas prévias, o que não é uma intervenção, já que a decisão está com o filiado daqui. A prévia é o processo, que está no estatuto do partido, o instrumento maior, que está acima de qualquer decisão de direção. Está escrito no estatuto do partido. Se você tem uma prévia em processo de desenvolvimento e um candidato desiste, o outro é automaticamente homologado candidato. Tem decisões que membros da executiva estão levando em conta do ponto de vista da natureza política. Na política, você pode fazer uma avaliação certa ou errada. O problema é que essa decisão fere valores históricos do PT, de respeito à democracia interna. Alguém pode achar que, em nome de ser pragmático na política, vale a pena tomar uma decisão, mesmo abrindo mão dos valores do partido. Cada um tem que avaliar, mas eu discordo. Até porque os elementos objetivos não são suficientes para dar esse argumento. O governo tem resultados, eu tenho competitividade eleitoral, tenho articulação na sociedade hoje maior do que antes. Com esse processo todo, eu cresci, não diminuí minha presença política. Então, o que justifica? Não vi até agora, a não ser esse argumento do ‘tercius’, que ninguém se convence disso. Qual é o outro argumento colocado na mesa nesse debate político?

O estatuto do PT foi rasgado?
Não era nem para ter reunião na terça-feira. Era para a gente já estar homologado. Mas a executiva quer aprofundar uma decisão. Essa decisão pode ir de encontro ao estatuto. Em nome de quê? Quais são os argumentos para isso? Que Humberto forjaria a unidade do partido. Só sendo a paz no cemitério. Não tenho nada contra Humberto. Isso é um processo político. Não trabalho dessa forma de que “não vou apoiar Humberto”. O processo político justo, legítimo e coerente é homologar minha candidatura. Não trabalho agora com a hipótese de não homologar. Agora tenho que pensar em viabilizar aquilo que estou trabalhando.

Além de contrariar o estatuto, essa decisão de colocar Humberto não contraria até o discurso crítico que o PT fazia contra o ex-governador José Serra (PSDB), por não cumprir os mandatos? Humberto tem mais seis anos de mandato, e já seria escalado para outro.
Isso seria uma dificuldade a mais para explicar para a população de Pernambuco. O PT, com um mandato de senador, ter que abdicar disso, tendo um prefeito, com direito à reeleição. Eu não tenho que explicar isso, não estou propondo isso, defendo exatamente o contrário. Um dos argumentos para eu achar que Humberto não deve ser candidato é a gente não perder uma vaga que nós lutamos tanto em Pernambuco para o PT ter. Se a gente pode ter a Prefeitura e o Senado, por que temos que escolher um dos dois?

Rands falou que aceitou uma sugestão da nacional e saiu da disputa, e esperava que o senhor fizesse o mesmo.
Não foi isso que Rands fez. Primeiro porque não tinha decisão da executiva nacional. A última decisão da executiva foi de convocar as prévias. Outra coisa é um dirigente nacional, mesmo sendo o presidente, dizer: “Olha, nós temos essa opção que podemos tomar”. Podemos. Não é tomar a decisão. Se Rands tivesse a candidatura dele e eu a minha, a executiva teria que tomar uma decisão antes das prévias. Chamar a executiva nacional, cancelar a decisão anterior e colocar outro nome. Então não tem nenhum confronto a qualquer decisão de direção nacional. Rands fez a opção política dele, eu fiz a minha. Todo o nosso processo levava para que nós ganharíamos a nova prévia. Não posso falar pelos motivos de Rands. Mas não conversei com ele, então não sei as razões.

Houve exageros na disputa entre o senhor e Rands?
Em guerra não tem santo. Quando você está numa disputa, acaba cometendo exageros, porque quer ganhar. A história não é contada por quem perde, é contada por quem ganha. Eu disse isso no início do processo, em entrevista à Rádio Folha FM 96,7. Rands disse que seria tudo lindo, flores, uma festa, e eu falei que ia ser duro, tenso, uma disputa intensa. Não existe fazer prévia com quem é governo. Isso é uma loucura, eu disse isso desde o início. A direção nacional hoje está convencida disso, vai botar no estatuto. Não existe em nenhum lugar do mundo quem é governo fazer prévia. Porque quem disputa a prévia só ganha se falar mal do governo do seu próprio partido. Não existe. É verdade que em alguns lugares tem limites, mas aqui não teve. Foi um processo de autodestruição. As pessoas acham que me destruindo ou destruindo o governo, não tem a ver com eles. Tem. O partido fica mais fraco. Imaginar que o partido fica mais forte destruindo lideranças é um equívoco.

Rands fez o João contra João?
Rands fez a campanha dele. João Paulo participou da campanha e teve espaço para colocar posições dele. Não conheço os bastidores da campanha de lá. Só conheço o que foi verbalizado publicamente.

Afinal, como foi a reunião da última terça-feira (29), entre o senhor, Rands e o presidente nacional do PT, Rui Falcão?
O presidente falou que o clima estava muito acirrado, que membros da executiva nacional, não a executiva, estavam defendendo que, em função do acirramento, deveria se cancelar as prévias, porque qualquer vencedor não unificaria o partido. Esse foi o discurso de Rui Falcão. E que membros da executiva estavam propondo, em função dessa conjuntura, um nome para ser o ‘tersius’. Que seria o nome de Humberto. Tinha gente na executiva defendendo essa saída. Ele também disse que tinha uma deliberação do diretório que, em cidades com mais de 200 mil habitantes, a executiva poderia homologar a chapa. E que a gente avaliasse essa proposta. Eu sabia que isso ia acontecer, antes de ir para a reunião. Porque ele tinha me feito essa proposta na outra reunião, do dia 24.

E o senhor questionou na hora?
Eu disse a Rui Falcão que o nome de Humberto não reunia condições políticas para ser um ‘tersius’. Não pelas condições políticas de Humberto, mas pelo processo que tinha acontecido. Humberto tinha tomado partido na disputa. Então, ele não era uma terceira via. Era uma segunda via que tinha perdido a primeira prévia. Isso é propor dar a vitória aos vencidos. Eu sempre fui à direção com o espírito aberto para conversar, para buscar saídas. Rands colocou o tempo inteiro que ele era o melhor nome, que unificaria a Frente Popular. Rui Falcão pediu um prazo, que ficou até a quarta-feira. Quando a gente saiu da reunião, não sei a serviço de que interesses, se vazou para a Imprensa que já havia o terceiro candidato. O que aconteceu foi isso, sem tirar nem por, e a versão é essa, confirmada por Rui Falcão. Nem fiz acordo, nem aceitei nem chorei. Se eu tivesse feito um acordo lá, eu teria credibilidade para ter essa posição? O próprio Rui Falcão iria dizer que eu fiz um acordo. Ele não vai dizer, porque não houve. Mas na luta política, fica gente dizendo que teve acordo. Paciência.

O senhor fez contas nas prévias. Tem estatísticas de quem é a seu favor e quem é contra na executiva nacional?
Estou trabalhando com uma discussão política. A executiva nacional não é eleição de filiados. Ali são dirigentes experimentados na luta política de muito tempo. Você não faz contas desse jeito. Por forças políticas internas lá, poderia dizer que sou minoria. Mas não tem nenhuma posição. A executiva nacional, nos últimos tempos, não tem se pautado por correlação de forças internas, mas por buscar uma ampla discussão política. É isso que vamos fazer lá, levar nossos argumentos.

A executiva alega buscar a unidade. Mas ela própria não se contradiz, ao passo que teria desobrigado o deputado João Paulo de lhe apoiar, em caso de vitória sua?
Não conheço essa posição da executiva. Quem disse isso foi João Paulo. Eu não ouvi da executiva que qualquer filiado está autorizado a se posicionar contra uma decisão do partido. Se a executiva tomar uma decisão contrária à minha expectativa, eu posso avaliar se recorro ao diretório, que é um direito assegurado. Porque a executiva é uma instância do diretório nacional, então cabe recurso. Aí cabe a você avaliar politicamente. A reunião será no dia 5 de junho. Se recorrer ao diretório, o diretório será chamado extraordináriamente e tudo fica parado. É uma questão de política, mas cabe-se tomar uma decisão, e isso não é ir de encontro à decisão, é um recurso. Ou acatar a decisão.

Recentemente, alguns nomes da oposição se mostraram solidários ao senhor, como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que chamou a postura do PT de indecorosa. Como vê isso?
A oposição está expressando o que está ouvindo nas ruas. Há um sentimento na cidade.

Na hipótese de a executiva homologar o resultado e o senhor sair candidato, quais seriam suas pretensões para um segundo mandato?
O PT tem que fazer um balanço de seus 12 anos. Temos que ter um conjunto de políticas importantes para avançar. A Cidade está mudando socialmente. A gente tem que estar antenado para isso, tem que ter um outro projeto de desenvolvimento da Cidade. Tem que consolidar o polo de serviços, se articular com o projeto para fortalecer a cadeia de turismo, da construção civil, do comércio. A questão da sustentabilidade tem que ser tratada de forma diferente, vindo para a centralidade das políticas públicas. Continuo convencido que o Recife não vai ser uma cidade melhor se a gente não remover as profundas desigualdades da Cidade. Você tem que ter ambiente para gerar empregos, políticas sociais fortes de habitação, saúde, educação, urbanização. O Recife não se consolida como uma cidade de serviços com as diferenças que existem. Nesse próximo mandato, temos que buscar mais articulação com a sociedade. Hoje, os governos e o estado são insuficientes para dar conta das tarefas que são colocadas no Recife. Temos que mudar a forma de fazer política, discutir cada processo, procurar sempre que possível construir consenso. Demos passos importantes para modernizar a administração, temos que fazê-lo ainda mais. Do ponto de vista político, é repactuar o processo, já agora, não deixar para o próximo mandato.

Ainda tem chance do grupo alternativo capitaneado pelo PTB lhe apoiar? Ficaram mágoas das críticas feitas?
Na política não existe isso. Não tenho mágoas. Uns podem criticar porque desconhecem o governo, outros porque querem fazer um contraponto político. Tem oposição que reconhece coisa boa do governo e critica, é uma forma de fazer oposição. Outros só fazem falar mal porque são oposição. Agora, temos elementos de governo, não só para mostrar à população, mas também para os partidos. Mas existe muita má vontade política em reconhecer o que vem sendo feito.

Pretende conversar mais com os aliados?
Veja os aliados que estão no governo. Tem PSB, PCdoB, PR, PDT, PHS, PTN, vários. Quem está fora? Os da oposição, naturalmente, e o PTB, que saiu. Mais o PP, que não participou da minha campanha, o PSC, que lançou (o deputado federal) Cadoca em 2008, e o PV, que apoiou Cadoca. Então, nenhum desses partidos era aliado originalmente. Se poderiam ter sido procurados? Poderiam. Talvez tenha sido uma falha minha, devo reconhecer isso. Mas o PTB saiu porque o PTB está sempre estudando a possibilidade de uma outra alternativa na política aqui em Pernambuco. Não é por fora da Frente Popular, mas dentro dela aglutinar alguns setores. Mas sempre estive à vontade com o PTB. Conversei com todos os partidos, mas depois que o PT entrou nessa disputa, todo mundo ficou esperando a solução dela. O problema é que essa disputa vai para três meses, é uma verdadeira campanha eleitoral, uma insensatez. Isso paralisou toda a articulação política para o Recife, e trará um prejuízo enorme. Mas esperamos que a executiva vá homologar (sua candidatura), e aí ficará tudo resolvido.

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